Avenida Brasil - O Gran Finale

Novela no Brasil é assim: todo mundo assiste. Seja um capítulo ou outro, uma trama ou outra, há quem não assuma, mas todo mundo já se viu diante da TV algum dia para acompanhar uma história mais de perto. A menina dos olhos da vez da Rede Globo e de boa parte do país é Avenida Brasil, que começou em 26 de Março e termina nesta sexta-feira, 19, num total de 179 capítulos. A novela sacudiu a audiência das 21h – em Fortaleza é um verdadeiro fenômeno, alcançando picos de 64,2 pontos e 90,2% de share (participação no total de televisores ligados). No Rio de Janeiro, a cena em que Carminha (Adriana Esteves) foi desmascarada sobrecarrregou o sistema elétrico em Angra do Reis. De acordo com O Globo, no fim do capítulo, o consumo saiu de 65 mil MW para 69 mil MW, o dobro da geração que as usinas de Angra produzem diariamente. Nessa hora, na Grande São Paulo, sete em cada dez televisores estavam ligados no triller novelesco de João Emanuel Carneiro. Nas redes sociais, internautas postavam as falas das personagens no facebook. No twitter, os comentários vinham com a hash tag #OiOiOi169 que chegou aos trend topics. Para evitar a falta de luz no capítulo derradeiro de hoje à noite, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ordenou a geração adicional de quilowatts. É o que está sendo chamado de “Efeito Carminha” – que nos últimos meses reduziu o movimento nas ruas em todo o país e tem deixado muita gente em casa; quando saem para algum bar ou restaurante, preferem um que tenha uma TV sintonizada na novela. A emissora programou o último capítulo para ir ao ar com 70 minutos de duração – 15min a mais que o habitual. O faturamento agradece. Há muito tempo que uma novela – com o clássico “Quem matou?” em seu desfecho - não mobilizava tantas atenções –– a Presidente Dilma Rousseff, inclusive, que havia programado um comício em São Paulo ao lado de Fernando Haddad, no mesmo horário em que Avenida Brasil chegará ao fim, foi convencida pela coordenação da campanha do Partido dos Trabalhadores (PT) a alterar a data, segundo a Folha de São Paulo. Ainda de acordo com a Folha “o PT concluiu que ‘não haveria ninguém’ no comício para prestigiar a Presidente, já que todo mundo estará em casa para assistir o final da novela.” Vale lembrar, que no ano passado durante uma premiação, Dilma revelou que também é fã de novelas. Na época, ela disse assistir à Fina Estampa, do novelista Aguinaldo Silva. A história de Carminha e cia, que arrebatou o coração de brasileiros e brasileiras, é criação do carioca João Emanuel Carneiro, premiado diretor e roteirista de cinema, que começou na TV em 2000 como colaborador de Maria Adelaide Amaral na minissérie A Muralha. Com Avenida Brasil, o autor, de 42 anos, passou a ser conhecido no meio televisivo como “Capitão Gancho” – por sua habilidade em encerrar, blocos e capítulos, com um gancho pra “fisgar” de volta o telespectador. O congelamento da cena final do capítulo destacando a imagem de uma personagem foi uma atração à parte no folhetim eletrônico, inspirando memes e gifs que se espalharam na rede. Esta é a quarta novela que João Emanuel assina como autor principal, antes vieram Da cor do Pecado (2004), Cobras & Lagartos (2007) e A Favorita (2008). Sucesso absoluto de público e crítica (com algumas ressalvas, afinal, nem Jesus agradou a todos), Avenida Brasil foi concebida para refletir os anseios da “Nova Classe C”. “A novela é sobre a classe C, mas não só para a classe C. São coisas diferentes”, disse o autor em sua última entrevista para O Globo. Ele tem razão. A novela que possui uma linguagem cinematográfica e aborda conceitos universais como o bem e o mal, vai além da restrição de classes. A história da menina que perdeu o pai e foi abandonada pela madrasta em um lixão, e, anos depois, retorna com sede de vingança, sem dar importância aos valores humanos, lança uma pergunta ao telespectador: o que é permitido em nome da Justiça, ou do que consideramos Justiça? Nina/Rita (Débora Falabella) resolveu fazer justiça por conta própria, para isso não mediu esforços, enganou, trapaceou, mostrou sua faceta mais vil, no momento em que passou a torturar Carminha sem dó nem piedade. Então, o que faz de Nina a mocinha da trama? (Sim, porque novela que é novela tem que ter uma mocinha). Seria o fato de ela ter um motivo que justifique suas maldades? (a perda do pai). Assim, Carminha também poderia ter um bom motivo para ser quem é? O fato de ela ter presenciado o assassinato da própria mãe na infância pode ser um. Especulações à parte, João Emanuel já informou à imprensa que o final da “vilã” será surpreendente. Não duvido nada que Carminha se transforme na grande mocinha da trama. Diferente da vida, em novela tudo é permitido. E o futuro das personagens, somente ao autor pertence. Que assim seja. Novela é isso. Carminha merece a Redenção. Adriana Esteves faz uma interpretação tão brilhante de Carminha, que se torna impossível não amá-la. Em muitos de seus embates com Nina, confesso, foi por ela que eu torci. Em determinado momento da trama, a ex-Rita tripudiou em cima da madrasta, com provas que a incriminavam, mas no fim provou que de vilã não tem nada: não teve nem a astúcia de guardar as cópias das fotos que comprovam a traição de Carminha com Max (Marcelo Novaes) em um pen drive! Uma atitude banal nos tempos de hoje, armazenar fotos digitalmente, mas que poderia ter evitado tantos capítulos, inclusive o do assassinato de Max. Agora, além da curiosidade clássica de conhecer os destinos das personagens no fim de uma novela existe ainda um assassino a ser descoberto na trama criada por João Emanuel Carneiro, o verdadeiro pai de Carminha e senhor do Divino. E todos aguardam pelo desfecho, atores, diretores, e nós, telespectadores, ansiosos por retornar à vida normal, com passos menos apressados em direção a qualquer lugar que tenha uma TV ligada; dispondo de mais de tempo para gastar com a família e os amigos. Hoje à noite esse drama termina. Enfim.

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