O DESTINO DOS HOMENS

É chegado o momento na saga de Don Francisco, em que ele se encontra entre a cruz e a espada. De um lado, a severidade e dureza de um guerreiro e, do outro, a paciência e tranquilidade de um santo. Não que Don Francisco tenha preferência por um ou pelo outro, imagina, prefere a liberdade de ser ele mesmo, sem ter de se preocupar com lutas ou missões. Até então, Don Francisco vivera seus dias como se estivesse numa fogueira que anulava qualquer possibilidade real de salvação.

Sob um sol arrasador, devagar, o vaqueiro ia na estrada de terra montado em seu cavalo, Thor, e seus dois papagaios, irmãos, um em cada ombro; Átila, de peito estufado, que fica sempre do lado esquerdo, gosta de remoer os pensamentos e morder a sola do pé de Don Francisco, sempre que ele decide parar para um descanço. Clara, uma fêmea rara da espécime papagagaio-careca da franja amarelo ouro, insiste, a cada quilômetro do percurso, para que o irmão se cale e para que Don Francisco desista da idéia absurda de percorrer quilômetros para enfrentar os demônios na Terra Invisível, para isso, a papagaia usa de todas as armas, da chantagem emocional a poções mágicas. A substância usada para o efeito da magia: o suco da fruta que Don Francisco mais gosta - graviola. E quando Don Francisco bebe o líquido (o que ele acredita ser um tônico), ele sempre faz uma parada para um descanço, e é preciso amarrar Átila com uma corda no galho de uma árvore, para que a ave não lhe morda o calcanhar até arrancar o pedaço e fazer jorrar o sangue.

À sombra de uma árvore, Don Francisco dorme o sono dos justos embarcando para um lugar onde nem Clara e nem Átila são capazes de chegar - o mundo dos sonhos. As aves são crituras palpáveis e impenetráveis. Don Francisco está beirando os trinta e dois anos e não faz idéia do quanto mais ainda vai viver. Os papagaios são seres que, em liberdade, podem viver cerca de 100 anos, não se sabe ao certo, em cativeiro, quando bem cuidados, alguns chegam a viver até oitenta anos. Enquanto Don Francisco desfruta da sesta, Clara prepara mais uma dose da poção mágica e Átila discute com um gafanhoto chamado Marvin sobre o destino dos homens.