A idade de Cristo


33 anos, que eu completo hoje com muita história para recapitular... Pra começar, com a de hoje, a da festinha "surpresa" de meu aniversário. Já tem alguns dias que eu comecei a perceber uma movimentação estranha aqui na pensão, um entra e sai de quarto, portas fechadas (quando costumam estar sempre abertas), ouvidos e olhos atentos, e sempre que eu chegava a conversa mudava de ritmo. No início, pensei que se tratava de um complô ou algo parecido, quem sabe estava se formando um motim aqui na pensão, mas logo dei de cara com o calendário da cozinha, marcado no dia 11 de maio com um x, que para mim significava um lembrete importante! Sem alternativa, passeio a dar espaço para o "motim" se instalar de vez, foi quando surgiram as perguntas: o que você vai fazer na terça-feira da próxima semana? Me perguntou Justina, como quem não quer nada, há uma semana. Eu respondi que ainda não sabia, que provavelmente apareceria uma matéria daquelas beeeem trabalhosas que me deixaria exausto e que eu, por certo, acabaria cansado demais para comemorar... no que ela esbravejou: comemorar o quê?

- Os meus 33 anos, Justina.
- Nooossa, é mesmo, é o seu aniversário.
- Pois é...
- A idade de Cristo.
- A idade de Cristo! Me admirei da Justina saber que essa era a idade de Cristo, já que ela nunca me pareceu ser nem religiosa e nem inteligente o suficiente a ponto de conhecer essa informação. Enfim, terminei de comer a minha maçã sentado à mesa, e já estava me retirando da copa quando a Flavinha surgiu com essa:

- Pois estamos planejando um almoço que será realizado aqui na pensão pontualmente às 13:00, no dia 11, seria ótimo poder contar com a sua presença, já que é o dia do seu aniversário.

Como eu já conheço muito bem a Flavinha e sei que ela gosta de respostas diretas e ao ponto, respondi:

- Vou fazer o possível para estar aqui.

Ela abriu a geladeira, puxando um pote de iogurte e tomando por completo, o iogurte para a Flavinha representa uma dose de satisfação.

Uma semana depois, os preparativos para a "festinha" estavam a todo o vapor, Mami Cleontina já havia ensaiado um monólogo - curtinho, retirado e devidamente adaptado de A Comédia dos Erros, de Shakespeare - para apresentar, como de praxe, entre o almoço e a sobremesa. Mesmo de portas fechadas, todos os moradores da pensão escutavam na calada da tarde os sons e as falas, interpretadas da forma mais drámática. Por sorte, fiquei sabendo que (informação descoberta num telefonema que "flagrei" entre Iran, cuja mãe é cozinheira, e Fernando, que, às vezes, faz bico de barman) o almoço seria peixe e a sobremesa apenas uma musse de maracujá, assim ninguém corria o risco de sofrer uma indigestão - isso já havia acontecido, pelo menos, umas 3 vezes em 7 anos de realização dessas "festinhas surpesas"; Justina já havia recolhido de todos a cota da camisa de grife que eu receberia de presente de toda a turma da pensão, comprada por ela na loja em que trabalhava; Rute Irene já preparara o baralho para ler a minha sorte, era esse o seu presente de todos os anos (desde 2000, quando ela alugou um quarto aqui na pensão); Julia já tinha colocado na moldura a foto eleita - por ela a melhor - de sua última exposição, para me dar de presente, e que iria para a parede do escritório, um acervo particular de fotos que eu tenho da minha prima, lugar que adoro ficar, é o meu aconchego; Consuelo, com um passado artístico tão rico e cheio de emoções quanto o de Mami, já havia ensaiado a música que iria cantar, no encerramento da "festinha", após a sobremesa - uma canção, claro, de Luis Miguel.

E chegou o grande dia! Tudo saiu como combinado e eu até pude comparecer a comemoração para receber todo o carinho dessa turminha que eu amo de paixão, já dizia o sábio, quem tem amigos, tem tudo! Hoje não trabalhei, resolveram me dar folga, sem motivo aparente - até onde eu sei. Amanhã, espero trabalhar melhor e com mais vontade, para fazer valer o merecimento de ter amigos tão fiéis e especiais como os que eu tenho. Salve Divas!

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