"DEUS ESTÁ NAS COINCIDÊNCIAS"


O célebre jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980), dizia que Deus está nas coincidências. Ele também dizia que todo amor é eterno e, se acaba, não era amor.

Hoje é Sexta-Feira da Paixão, eu estou de volta à minha terra natal, Iguatu-CE. Foi aqui onde eu provei pela primeira vez do amor romântico, volto aos meus sete anos e, de repente, ela surge, entrando na sala de aula e sendo apresentada para a turma: "esta é Bruna, uma nova coleguinha", falou a tia Beatriz. Naquele instante, meu coração passou a bater aceleradamente e os meus olhos não conseguiam mais fugir da direção da aluna novata, que sentou-se duas cadeiras à frente da minha; logo, chegou o recreio e timidamente, eu me aproximei de Bruna.

- Oi, eu me chamo Francisco.
- O meu nome é Bruna.
- Seja bem vinda.
- Obrigada.

Com o tempo, Bruna e eu tornamo-nos companheiros inseparáveis, não apenas na escola, mas fora dela. Depois da aula, voltávamos para casa pelo mesmo caminho, já que éramos vizinhos - ela morava na casa ao lado da minha. Nos fins de semana, um sempre visitava o outro, pela porta da frente ou pelos fundos, saltando o muro, a fim de bricar ou mesmo para estudar, éramos estudiosos e, coincidentemente, nossa matéria preferida era Redação. Escrevíamos de tudo, roteiros de filmes, seriados, telenovelas e até de curtas-metragem, escrevíamos juntos, depois um revisava o texto do outro, éramos uma dupla de roteiristas mirins. Até que, um dia Bruna chegou para mim com uma carta de amor nas mãos e pediu que eu revisasse. Eu a li, mas não havia erro algum, coincidência ou não, Bruna havia escrito tudo o que eu gostaria de ler numa carta de amor. Como resposta, eu lhe dei um beijo na boca, que foi o meu primeiro e também o de Bruna, ficamos ali durante algum tempo abraçados... Passamos o resto do ano revisando os textos um do outro, entre beijos suaves e abraços apertados, até que, para nosso desespero, o pai de Bruna foi transferido mais uma vez do banco em que era gerente para outra cidade, em outro estado. Chorei dias e noites intermináveis sobre os roteiros que havíamos escrito a quatro mãos e as cartas que ela me enviava todas as semanas. Mesmo de longe, Bruna continuou a me escrever, mas não demorou para que o carteiro parasse de chegar.

Ontem, ao sair da assessoria de imprensa onde trabalho, cruzei com Bruna entrando. Nem sei como a reconheci, afinal, já se passaram mais de vinte anos. Ela também me reconheceu, de longe.

Deus? Coincidência? O fato é que Bruna também seguiu a carreira de jornalista e atualmente trabalha para um jornal no interior do estado do Rio Grande do Norte. De férias em Fortaleza, havia marcado de encontrar um amigo que trabalha comigo, Rogério, por sinal, meu amigo. Eu estava com pressa para viajar, mas trocamos telefones e combinamos de nos falar na segunda-feira.

2 comentários:

Leco disse...

belo texto.
:`)

Anônimo disse...

Que lindo este texto....mas fiquei curiosa...e ai?? rsrsrs....fã dos seu textos....abraços
Graziela - Cuiaba.MT