
Esta é a parte da história em que eu vou parar no banco dos réus. Uma senhora chamada Walkíria, entrou com uma queixa contra mim na delegacia, ela me acusa de tê-la agredido verbalmente e atirado ovos e objetos em seu carro, num episódio que se desenvolveu na quarta-feira, na porta do prédio onde moro há exatamente dois anos.
O episódio: Eram quase quatro horas da tarde, eu estava deitado na minha cama, em casa, dormindo em meu sossego, quando a senhora Walkíria estacionou na porta do edifício onde residem sua mãe e irmão, que fica na frente do meu, e insistentemente passou a apertar na buzina do carro, a fim de que a pessoa pela qual ela aguardava saísse. Com intervalos de poucos segundos, apenas, a feroz buzina voltava a soar estridentemente, foi quando eu resolvi descer até a rua com a intenção de pedir à impaciente senhora que ela, por favor, parasse de buzinar, ou fizesse melhor, agisse como a maioria das pessoas educadas e descesse do veículo e apertasse a campainha do prédio. Provavelmente pelo traje que eu estava usando - apenas um short -, a senhora Walkíria, assustada, se recusou a baixar o vidro fume do automóvel, afinal, o mundo anda tão violento, com a mão eu fiz um gesto para que ela abaixasse o vidro, mas foi em vão, ainda assim, com o vidro levantado, eu falei:
- Oi, será que a senhora poderia dar um descanso à sua buzina ou descer do carro para tocar a campainha, é que eu estava dormindo, eu estou doente e a senhora me acordou...
De imediato, o vidro fume foi abaixado pela senhora Walkíria, que gritando, proferiu a seguinte frase:
- Isso é um problema seu!, e levantou o vidro do carro.
Chocado com a sua reação, eu falei:
- Não, minha senhora, isso não é um problema meu, é um problema nosso, na medida em que a senhora pára para buzinar com a sua buzina insistente na porta da minha casa, isso é um desrespeito com a paz e com o silêncio dos moradores.
Ela fez de conta que não escutou e de dentro do veículo, com o vidro fume fechado, mais uma vez ela esperneou:
- É problema seu!!
Indignado, e mais que isso, revoltado, eu falei para a senhora Walkíria que se ela não parasse de buzinar insistentemente na porta da minha casa eu jogaria um ovo em seu automóvel, no que ela respondeu:
- Pois jogue!
E foi o que eu fiz, ao retornar ao meu apartamento - mas antes mesmo que eu subisse, enquanto eu atravessava a rua, a senhora Walkíria novamente insistiu na buzina, dessa vez ela apertou ainda mais forte, zombando e olhando para mim. Por trás dos óculos de grau, seus olhos brilhavam como os olhos de uma feiticeira em frente ao seu caldeirão.
Na varanda do meu apartamento, com um ovo em cada mão, eu aguardei o toque da trombeta, que não demorou, até que:
Ploft!
Um ovo manchara o carro e a reputação da senhora Walkíria, que ofendida, desceu o vidro escuro do veículo e esbaforida começou a gritar alucinadamente frente aos vizinhos que chegavam para lhe prestar apoio moral, afinal, um ovo havia sido atirado, sujando o nome daquela senhora que se diz "de bem" - Walkíria.
Uma senhora "de bem" que não dá a mínima para o problema dos outros, "o problema é seu!", foi o que eu ouvi da sua boca. Sem querer escutar mais nada, eu resolvi me abrigar na casa de uma amiga, enquanto a senhora Walkíria se acalmava, falando ao celular, descontroladamente ela relatava o ocorrido para alguém do outro lado da linha. Ao chegar na casa dessa amiga eu finalmente pude dormir.
À noite, de volta ao meu lar, Daniel, meu amigo e colega de apartamento, me falou que até o Ronda do quarteirão ouviu os berros da senhora "de bem", que saiu direto para uma delegacia a fim de prestar queixa.
Na quinta-feira, 17 de julho de 2008, eu recebi uma notificação do delegado Gregório e no dia seguinte eu compareci, às 13:30min, no Segundo Distrito de Polícia, achando eu, que era apenas para prestar maiores esclarecimentos sobre o "incidente". Mas eu estava completamente enganado. O cenário era outro, de repente, adentraram na delegacia, Dona Walkíria, de óculos escuros e cabelos vermelhos feito fogo, acompanhada do irmão, um policial federal, e mais um advogado com uma bíblia de Direito debaixo do braço. Três aranhas negras que recentemente haviam me visitado em sonho, ou melhor, em pesadelo, foi quando eu acordei: ela estava com a faca e o queijo nas mãos, ou melhor, ela estava com o veneno preparado e eu com as mãos atadas, indefeso.
No gabinete do delegado Gregório, primeiramente falou a senhora Walkíria, “a vítima”, depois eu, “o réu”, em seguida o irmão policial e por último o advogado, que abriu a bíblia jurídica e verbalizou o que lá estava escrito, grifado - eu havia cometido um crime contra a integridade da senhora Walkíria, uma senhora de bem, uma vítima da violência, mas que horror, em que mundo nós estamos?! Perguntei para ele se dentro daquele livro grosso, também constava algum trecho que classificava como crime o distúrbio do silêncio. Ele me respondeu que sim, mas não foi capaz de me informar a página.
Na versão criada pela senhora Walkíria, eu havia me aproximado de seu carro aos berros, pronunciando contra ela palavras de "baixo escalão", batendo no vidro, esmurrando a porta, ameaçando-a fisicamente. E ao voltar para o meu prédio eu teria começado a atirar ovos e objetos, que felizmente não a acertaram, senão ela poderia estar morta, mortinha. E de uma só vez, Dona Walkíria havia praticado os crimes de perjúrio - prestar depoimento falso -, injúria - atribuir à alguém qualidade negativa que ofenda sua dignidade ou decoro -, e difamação - atribuir à alguém fato determinado ofensivo à sua reputação -, os três contra a minha pessoa.
Novamente, foi permitido a cada uma das partes se pronunciar, foi quando eu pedi permissão ao senhor delegado para falar diretamente com a senhora Walkíria, que indagada pelo homem da lei, consentiu.
- Senhora Walkíria, a senhora sabe que eu estou falando a verdade e que a senhora está mentindo, eu não fiz nada disso que a senhora falou, desci calmamente e lhe pedi educadamente que a senhora tirasse a mão da buzina, compartilhei com a senhora a dor da minha doença, no que a senhora me respondeu estupidamente: "é problema seu!", me desculpe, mas eu fiquei transtornado com a sua atitude e foi por isso que eu lhe atirei um ovo, confesso aqui, perante o delegado e perante essa imagem de Cristo – eu apontei para um crucifixo pendurado na parede da sala -, que a minha intenção não era acertar o seu carro, eu queria apenas lhe dar um "susto", mas por obra do acaso, de Deus ou mesmo por culpa dos ventos, o ovo acabou caindo sobre o seu carro, porém não amassou e nem danificou o seu automóvel. Eu agi errado, mas a senhora também agiu erroneamente, vamos esquecer este assunto.
Em seu grande momento, ela disse:
- Esquecer jamais, eu fui agredida e isso eu jamais vou esquecer, eu posso esquecer, sim, o dinheiro que eu gastei com a lavagem do carro e com o medicamento tarja preta que eu tive que tomar após a "agressão", até para o médico eu fui de tão nervosa, mas os honorários do advogado eu não esqueço, nem ele, você vai ter que pagar.
Cogitando a possibilidade de me ver livre daquela chave de cadeia eu perguntei ao advogado da senhora Walkíria quanto seria o valor a ser pago pelos honorários. "Um salário mínimo", foi a resposta, R$423,00, que eu teria de pagar para o advogado Chico Mota, que gostava de atuar na profissão com uma bíblia jurídica debaixo do braço para lhe prestar assessoria sempre que necessitasse.
Aleguei que eu era apenas um estudante universitário, estagiário, possuidor de um salário de R$350,00 e que eu não tinha como arcar com este prejuízo.
Ela foi enfática:
- Ou você paga ou nós - ela, o irmão policial e o advogado - , entramos com um processo criminal contra você. É pegar ou largar.
- É melhor você aceitar, rapaz, eu sou policial federal e pela minha larga experiência, você vai acabar tendo que pagar mesmo, além do que, o seu nome vai ficar manchado para sempre, vai ser difícil para você conseguir qualquer emprego, me garantiu o irmão policial.
Eu não podia pegar e nem largar e por essa razão eu pedi um tempo para pensar na melhor solução, para todos nós, mas não me foi dada esta chance, "decida agora", foi o que avisou o tal do Chico Mota.
Eu estava sozinho entre os grandes e, sentindo-me pequeno e coagido, a melhor resposta que eu pude dar foi:
- Tudo bem, eu pago.
Saí da delegacia me sentindo indefeso, dilacerado, injustiçado, como pode uma senhora que se diz "de bem" agir dessa forma e não ser punida?! Como posso eu arcar com esse prejuízo sem bater de frente com tudo o que eu acredito a respeito do mundo e das pessoas?! Foi quando eu me dei conta de que hoje em dia a justiça, infelizmente, nem sempre funciona dentro da lei e que a verdade prevalece, na maior parte das vezes, sobre quem tem o dinheiro e o poder.
4 comentários:
Nice blog. Thats all.
This is a nice blog. I like it!
I could give my own opinion with your topic that is not boring for me.
Such a nice blog. I hope you will create another post like this.
Postar um comentário